Querido Denis, como você está? Onde você está?
Demorei pra te escrever este e-mail, mas saiba que tu está em meus constantes pensamentos!
Fazem seis meses que estou na estrada e ainda não descobri o que de fato quero fazer da minha vida quando voltar pro Brasil – porque que eu volto é certo, só não sei quando!
Na Argentina acho que foi o lugar onde tive as piores sensações… Claro, conheci pessoas incríveis, que sempre levarei comigo as boas recordações delas, porém, igualmente conheci pessoas que não sabe o significado da palavra humanidade – não que isso seja ruim, claro que não, pois agora sei da verdadeira importância do acolhimento ao próximo e a diferença que isso faz na vida de todos…
Cheguei no Chile um pouco desesperada, (talvez pelos resquícios de más energias que passei), porém o Chile tem se mostrado um país incrível!
Acho que uma semana depois que eu cheguei, me encontrei com um amigo do Peru que veio passar as férias aqui, e devido a isso mudei totalmente o meu roteiro; de Santiago eu iria direto para San Pedro, porém, esse meu amigo me convenceu e me ajudou a ir pro sul!
Passamos por Valdivia e chegamos a Pucon com a ideia de ficar uma noite, porém acabei ficando uns 20 dias lá.
Em Pucon, logo no segundo dia que estava consegui um trabalho em uma verduraria, da qual me aproximei de pessoas da qual sempre me lembrarei!
Conheci a realidade de uma menina que foi mãe aos 13 anos e um garoto que se casou aos 11 por incentivo dos pais, decisões essas que fizeram eles deixar os estudos e trabalhar no campo, Seasa chileno ou em verdurarias por toda a sua vida! (Agora eles têm entre 25 e 30 anos).
Pessoas que quando eu falava que tinha terminado os meus estudos (3o colegial) me parabenizavam por essa conquista. Como isso me emocionou! Claro que não pelo fato de que alguém me está parabenizando por isso, mas pelo fato que isso pra mim é algo tão normal, tão comum, que saber que terminar os estudos básicos é o sonho de alguém, pra mim é tocante!
Assim como conheci pessoas simples, também conheci pessoas que adoram festas, e como adoram!
Acho que fiquei 20 dias em Pucon careteando (gíria para sair beber).
Ainda mais porque aqui na festa pátria é uma das poucas datas que se pode beber na rua, então, claro que todos aproveitam dessa data e metem o “pé na jaca” heheh.
Em Pucon também resolvi me meter a aventureira… Fui fazer uma trilha de 6 horas com barro e neve sozinha e sem pinos de apoio pra subida… Resumindo, subi com dificuldade e na volta escorreguei e desci quase 20 minutos de bunda escorregando na neve, batendo minha mão em tudo conté galho pra tentar me segurar, porém todos cheios de espinhos (já fazem quase 15 dias que aconteceu isso e eu ainda tenho espinho na mão, mas o bom é que essa descida me economizou 1h de trilha”/ ).
Quando cheguei por fim na parte mais tranquila, quase saindo do parque, passou uma família de carneiros com dois bodes, e adivinha?
Os bodes me olhou uns minutos e saíram correndo atrás de mim! – eu ainda com as pernas bambas da descida, tive que correr de dois bodes – claro que subi na primeira árvore que vi na frente (uma árvore fraca e fina, que não podia ficar em qualquer galho se não caia) e os bodes lazarentinhos ainda ficaram uma meia hora ali, batendo a cabeça na árvore pra que eu caia!
Resultado do traking de aventura: uma mão cheia de espinho, ralada, joelho todo fodido e uns três dias sem andar de dor nas pernas.
Sai de Pucon e fui a reiñaca com uma amiga que conheci no sul, (ficamos na casa de outra amiga dessa minha amiga de Pucon)… Reiñaca é uma cidade com praia pertinho de Santiago… Fui aí pra vender cerveja no carnaval de Valparaiso (a 15 min de reiñaca e 1h30mim de Santiago)
Isso mesmo, o Chile também tem um carnaval de três dias, incrível, lindo, divertido, porém claro que muito diferente do nosso.
No segundo dia já não tinha mas voz de tanto gritar “chela a luca, chela a luca” (cerveja a mil pesos)… E por conta disso os amados clientes sempre me davam um golinho da sua cerveja, ou seja, eu bebia todas as cervejas que vendia e no final estava mais bêbada que meus clientes! Hehehehe
Graças às vendas das cervejas, cheguei a San Pedro, uma cidade pequena que cada vez me encanta mais!
Aqui em San Pedro estou na casa de outra amiga da Cárem (a minha amiga de Pucon que fui a reiñaca)… Ahhh, quando voltei pra Santiago pra ir pra Reiñaca também, fiquei na casa amigos de amigos que fiz em Pucon… Ou seja, o Chile só está colocando bons amigos em meu caminho!
Em todas as partes que vou encontro pessoas tão incríveis e “buena onda” que as vezes desacredito de tudo que estou passando…
Bom, termino este e-mail te contando que por mais que estou sempre entre boas pessoas, acordo todos os dias desejando um abraço bem apertado dos amigos que tenho no Brasil!
Me sinto uma mulher muito mais confiante, porém com uma saudade em meu peito constante dos amigos, da minha família e claro, de pão de queijo!
Beijos cheio de boas energias
Jaque
COISAS DA MOZENA 